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Ministério da Educação abraça intenção de universalizar ensino integral 

Em primeira entrevista no cargo, Camilo Santana defende medida como caminho para um salto rápido na educação pública 

Em entrevista ao jornal Estado de S. Paulo, Camilo Santana, titular do Ministério da Educação desde o início do ano, disse querer que todas as crianças estudem em tempo integral nas escolas públicas brasileiras.

O ministro defendeu cooperação entre os entes, alfabetização, qualificação dos professores e ensino integral como objetivos da pasta. Para Santana, ampliar o número de horas na escola e a abrangência do currículo tem potencial para melhorar indicadores de aprendizado e ampliar oportunidades para crianças e adolescentes. Pautas essenciais e que estão em linha com as ações estratégicas e compromissos do Instituto Natura. 

À repórter Renata Cafardo, o ministro defendeu que o ensino integral seja modelo para todos os anos, mas pontuou que o início deve ser pelo Ensino Médio, que já tem exemplos bem sucedidos de implementação. “A maior política de prevenção à violência é implementar a escola em tempo integral em todos os níveis”, argumentou na entrevista. 

Para o ministro, o governo já estabeleceu a educação básica como prioridade e quer alçar um salto rápido na educação pública, o que deve trazer mais investimentos para a área e possibilitar a implementação do ensino integral.  Hoje, 80% dos cerca de 40 milhões de alunos brasileiros permanecem nas escolas por cerca de 4 horas. Pesquisas mostram que o modelo integral reduz o abandono escolar, cria mais empregabilidade e aumenta a conexão do professor e do aluno com a escola.  

O resultado também é visto em outras áreas. Uma pesquisa recente da Universidade de São Paulo com o pesquisador Leonardo Rosa, com apoio do Instituto Natura, mostrou que investir em escolas em tempo integral reduz as taxas de homicídio de jovens homens em até 50%. O estudo analisou 16 anos de uma política do estado de Pernambuco que aumentou o tempo de aula para 10 horas diárias e inseriu um currículo abrangente, focado no protagonismo do estudante e no projeto de vida de cada um. 

Com dados de 2002 a 2018, a análise foi dividida em duas. Uma delas opôs municípios pernambucanos com escola em tempo integral e municípios do estado com escola regular. A segunda parte da análise olhou para cidades pernambucanas com esse modelo, localizadas na divisa com outros estados, e comparou com as vizinhas de outros estados sem a opção de modelo integral.

No primeiro grupo, a diminuição das taxas de homicídios de homens de 15 a 19 anos foi de 37,6%. No segundo, de 50,8%. As meninas não foram analisadas. A equipe de pesquisadores criaram um método para isolar efeitos de outros programas sociais e captar com precisão a influência da escola. Pernambuco tinha uma das taxas de homicídios de homens jovens mais altas do país no início dos anos 2000. 

Hoje, 70% das vagas pernambucanas de ensino médio são em tempo integral – é o índice mais alto do país e considerado o patamar mais alto a ser alcançado, já que se prevê deixar unidades com grade regular como opção. Outras pesquisas concluíram que maiores salários para os jovens formados, mais empregabilidade das meninas e redução da desigualdade também estão na lista de transformações alcançadas pela adoção do ensino integral. 

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