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Como falar sobre segurança pública nas escolas? 

Seminário reuniu 18 estados para discutir estratégias de prevenção e acolhimento dos estudantes 

A prevenção de ataques em escolas e instituições de ensino é uma preocupação hoje na comunidade escolar. O tema, latente em debates entre gestores, professores, estudantes e pais e mães, foi escolhido para o primeiro seminário de 2023 da iniciativa Rodas de Conversa – serão quatro encontros neste ano. 

As Rodas de Conversa nasceram em 2020, como encontros mensais com as equipes técnicas responsáveis pela implementação do Ensino Médio Integral nos estados que já adotam o modelo com o apoio do Instituto Natura. As pautas são definidas também de acordo com demanda dos gestores e aliadas a discussões que fortaleçam a escola integral. Além de abordar temas relevantes para as escolas no momento de cada encontro, as reuniões organizadas pelo iN também são um espaço de compartilhamento de estudos e evidências sobre os resultados do Ensino Médio Integral, além de um canal de intercâmbio de boas práticas. 

No seminário inaugural deste ano, realizado no fim de maio, o Instituto Sou da Paz foi convidado a participar com contribuições para o debate sobre a segurança pública e a cultura de paz nas escolas. Danielle Tsuchida, coordenadora de projeto da organização, avalia que, para avançar na discussão sobre os ataques nas escolas, é preciso dar um passo atrás e falar sobre o acesso às armas no Brasil. Ela apontou que, de 2019 a 2022, mais de 40 atos normativos foram assinados para flexibilizar o acesso a armamentos no país. Os caçadores, atiradores esportivos e colecionadores, CACs, que têm permissão para ter uma arma, eram 350 mil em 2018; em julho de 2022, já eram mais de 1 milhão.

“O culto às armas é um dos elementos que a gente observa nos jovens agressores que executam atentados em ambientes escolares. Há uma combinação de armamento, roupas e adereços que marcam uma identidade”, descreve. “Há vários fatores envolvidos, claro. São, no geral, meninos, brancos, adolescentes, cooptados por grupos com discursos extremistas e de apologia da violência.” 

A prevenção passa pelo fortalecimento da ronda escolar e pelo investimento nos instrumentos de investigação policial.

“Muitos ataques são planejados nas redes e haveria formas de identificar os conteúdos, rastreá-los e prevenir ataques”, explica Danielle Tsuchida.

Ela avalia, no entanto, que o estreitamento dos laços de acolhimento na comunidade escolar é parte fundamental da construção de uma cultura de paz nas escolas. Para a especialista, o Ensino Médio Integral tem uma estrutura mais próxima do ideal para a prevenção de atentados, inclusive pela valorização dos projetos de vida e pelo protagonismo atribuído aos jovens, que fazem muita diferença no engajamento dos alunos e no sentimento de pertencimento deles.

“Toda e qualquer desestrutura na escola ajuda a gerar medo. Então ter uma escola que valoriza o professor, que olha para o aluno, que fortalece a comunidade escolar, como são as de Ensino Médio Integral, ajuda muito. Além disso, envolver os jovens no processo decisório, como essas escolas já fazem, é fundamental.” 

O encontro da iniciativa Rodas de Conversa abriu espaço para a troca de materiais e conteúdos de referência que abordam a violência nas escolas e tratam como a cultura de paz e a segurança podem ser trabalhadas. Estados que já aplicam medidas de prevenção ou já desenvolveram projetos contra a violência compartilharam suas iniciativas. O professor Romário Farias, que guiou a troca de experiências na reunião, destacou uma prática do Ensino Médio Integral que ele entende como estratégica nesse debate: o acolhimento diário que traz o jovem para mais perto da equipe escolar.

“Poder participar efetivamente da escola, ter respeito e autonomia, ter experiências participativas que envolvem escuta atenta e que potencializam o projeto de vida dos alunos. É nesse caminho que a gente precisa atuar”, conclui o professor. 

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