Adesão de estados e municípios à ferramenta que mede aprendizado pode acelerar a melhoria de resultados e a compensação de perdas trazidas pela pandemia
A linha do tempo da avaliação de fluência leitora no Brasil ainda é curta, mas as medições mais recentes mostram variações consequentes dos prejuízos à educação trazidas pela pandemia do coronavírus. Em 2019, 54% dos alunos do 2º ano eram pré-leitores, 26% eram leitores iniciantes e 10%, fluentes. A edição de setembro de 2021 viu o número de pré-leitores subir para 72%. Mas as crianças que já tinham competências de leitura iniciantes caíram para 20% e os leitores fluentes para 8%.
A avaliação de fluência é uma ferramenta que avalia a oralidade. “Essa é uma dimensão que acaba secundarizada ou mesmo não sendo vista pelas avaliações tradicionais, que têm como foco a leitura e a escrita”, explica Hylo Leal, coordenador de avaliação da Associação Bem Comum, organização parceira implementadora da Parceria pela Alfabetização em Regime de Colaboração (PARC) apoiada pelo Instituto Natura e Fundação Lemann na aplicação do teste. São consideradas fluentes aquelas crianças que conseguem ler no mínimo 65 palavras por minuto ou que leem um texto simples e conseguem compreender pelo menos 90% do conteúdo. “Esse seria o ideal para uma criança terminar o 2º ano do Ensino Fundamental como leitora fluente”, diz Leal.
Mais estados têm apostado no método para medir a capacidade leitora dos estudantes. Em 2019, quatro unidades da federação adotavam a avaliação: Amapá, Espírito Santo, Pernambuco e Sergipe. Em 2022, outros estados já tinham se juntado ao grupo, com o acréscimo de Alagoas, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Maranhão, Piauí, Goiás, Rio Grande do Sul e São Paulo. Todos trabalham em regime de colaboração com seus municípios, com apoio de Associação Bem Comum, Fundação Lemann e Instituto Natura, integrando a PARC, programa inspirado no modelo cearense para garantir a alfabetização na idade certa e a erradicação do analfabetismo.
Os critérios da avaliação de fluência foram desenvolvidos pelo Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação (CAEd) da Universidade Federal de Juiz de Fora. Os estudos que baseiam o trabalho foram feitos em parceria com o Ministério da Educação em 2017. A ideia era criar um teste de metodologia simples, que pudesse ser aplicado pelo próprio professor, e que permitisse um diagnóstico rápido. “Quanto antes o professor, o diretor e o secretário de educação tiverem o panorama dos desafios, mais tempo têm para se engajarem na alfabetização das crianças na idade adequada”, enfatiza Hylo Leal.
Para realizar a avaliação, o professor usa um aplicativo e grava áudios do estudante lendo três itens, cada um com um grau de complexidade diferente. No momento do teste, o próprio docente pode observar se há fluência na leitura e se há pausas ou dificuldades entre as palavras. Os áudios gravados são avaliados por uma equipe treinada, que vai sistematizar os resultados e permitir que as secretarias de educação possam acessá-los e, a partir deles, desenhar ações resolutivas.
Diferentemente de outras provas, como o SAEB, que medem aprendizado no Ensino Fundamental com foco no desempenho de alunos do 2º, 5º e do 9º ano, a avaliação de fluência leitora, ao olhar exclusivamente para o estudante do 2º ano, tem potencial para afunilar as lacunas, identificando precocemente os desafios. Em 2023, o investimento na formação de docentes para executar e corrigir a avaliação deve continuar, na tentativa de estimular o protagonismo dos professores e acelerar o acesso aos resultados. Com avaliações corrigidas mais rapidamente e resultados mais acessíveis, podemos ter soluções mais ágeis para os desafios da alfabetização e alcançar de forma mais abrangente o resultado ideal na idade certa.