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Amapá lidera em matrículas de Ensino Médio Integral na região Norte 

Estado atinge a marca de escolas integrais em todos os municípios; estudantes relatam benefícios e resultados positivos do modelo 

O Amapá tem assumido posição de liderança na região Norte do país quando o assunto é Ensino Médio Integral. Desde o ano passado, o estado é o único com escolas de tempo integral em todos os 16 municípios e virou exemplo para os vizinhos, que estão adotando a política pública como estratégia para combater o abandono escolar e acelerar a aprendizagem dos estudantes.  

Os estados da região Norte são os que registram os menores índices de matrículas e as maiores taxas de evasão escolar no ensino médio do Brasil, de acordo com dados do Censo Escolar de 2022. Também são os estados com índices mais baixos de escolas em tempo integral. Essa política pública, no entanto, tem aparecido como ferramenta promissora para, não só reverter os indicadores, mas também enfrentar desafios abrangentes criados ou agravados pela pandemia de coronavírus. 

A Covid-19 acentuou desigualdades já existentes, com especial impacto nas regiões Norte e Nordeste. Os números do Censo apontam para disparidades socioeconômicas entre estudantes das áreas rurais e urbanas, entre escolas públicas e privadas, assim como entre alunos negros e brancos. E o Ensino Médio Integral tem se mostrado uma resposta efetiva a esses desafios: ao passarem mais tempo nas unidades de ensino e serem agentes de seus processos de ensino, os estudantes têm um ambiente propício e acolhedor para o aprendizado e alcançam melhores resultados acadêmicos. 

Escolas estaduais de São Paulo que adotaram o Ensino Médio Integral têm uma taxa de evasão 10,6 pontos percentuais menor em comparação com as escolas regulares, com impacto ainda mais positivo para estudantes com atraso escolar, com uma taxa de evasão 19,4 pontos percentuais menor. É o que aponta um estudo realizado pelo Laboratório de Estudos e Pesquisas em Economia Social (Lepes). A pesquisa analisou o desempenho de estudantes em escolas estaduais paulistas de Ensino Médio, comparando as que aderiram ao Programa de Ensino Integral entre 2012 e 2019, com jornada diária de 9 horas, às escolas regulares.  

O Amapá, campeão de matrículas integrais entre os estados do Norte, deve ser o primeiro da região a sentir os resultados do investimento no Ensino Médio Integral. Com 24 escolas integrais, o Amapá ocupa o 5º lugar no ranking nacional de estudantes no Ensino Médio Integral: são 21% das matrículas no Ensino Médio (ou seja, 5.986 matrículas integrais), superando a média nacional de 17,7%. 

Ana Brígida Carvalho, de 18 anos, é ex-aluna da Escola Estadual Maria Carmo Viana dos Anjos, em Macapá. Ela avalia que o Ensino Médio Integral ajudou a criar laços com os professores e colegas de classe, uma vez que ela passava a maior parte do tempo na escola.

“É praticamente uma família. A gente ficava mais tempo dentro da escola do que fora, porque gostava. Nem percebia o tempo passar”, afirma. 

O modelo integral é desenhado para dar protagonismo aos estudantes e se conectar à realidade deles, além de desenvolver suas competências acadêmicas e socioemocionais. Essa abordagem inclui pilares como o “Projeto de Vida”, que estabelece ligação entre o futuro dos alunos e seu processo de aprendizagem, e as “Tutorias e Orientações de Estudos”, que guiam os jovens por suas escolhas acadêmicas e ajuda-os na preparação para o vestibular, o ingresso no ensino superior e o acesso ao mercado de trabalho. 

Ana Brígida descobriu seu interesse pela pedagogia ao participar de um trabalho de pré-iniciação científica sobre o uso da água em comunidades ribeirinhas e agora sonha em seguir uma carreira nessa área.

“Tem uma frase do Paulo Freire que eu gosto muito, que diz que quem faz a escola são as pessoas que estão ali. O ensino médio integral ajudou a descobrir o que eu quero ser, me deu direção”, afirma a estudante, recém-aprovada no curso de Pedagogia na Universidade Federal do Amapá. 

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