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Escola cearense de Ensino Médio Integral é finalista de prêmio internacional de educação 

Projeto de atenção, escuta e apoio terapêutico a estudantes se destacou por ampliar cuidados com a saúde mental 

As escolas estavam fechadas quando o professor Guilherme Barroso Melo notou que se sentia diferente. No meio da pandemia, ele começou a ter sintomas de ansiedade e prestou atenção à própria saúde mental. Em conversas, descobriu que as sensações eram compartilhadas também por seus colegas e por alunos da escola de Ensino Médio Integral Joaquim Bastos Gonçalves, onde ele dá aulas de educação física. 

Do incômodo coletivo que conseguiu captar, o professor deu a ideia de um projeto para ampliar o acesso da comunidade escolar aos cuidados com a saúde mental – a iniciativa é uma das finalistas do World’s Best School Prizes, premiação internacional de educação que está na segunda edição e celebra escolas que fazem a diferença.  

A escola pública de ensino médio de Carnaubal, no interior do Ceará, construiu uma rede de psicólogos voluntários de todo o país e passou a oferecer assistência profissional especializada aos estudantes, em atendimentos virtuais. O projeto, que ganhou o nome de “Adote um Estudante”, ampliou a conscientização sobre a importância da saúde mental dentro e fora do ambiente escolar. 

“Os municípios não têm condições de atender todos os estudantes com psicólogos, foi por isso que pensamos no ‘Adote um Estudante’”, explica Guilherme. “O acompanhamento inclui trazer o estudante para perto. Temos alguns alunos infrequentes, por exemplo, e a gente tem que ir na casa e conversar com os pais, entender os motivos das ausências. Muitos pais relatam que entre as principais razões estão questões de ansiedade ou de autoestima baixa. A gente também tem um momento de planejamento com os alunos, conversando com eles de forma individual. E eles costumam se abrir com a gente, dizer dos problemas que estão enfrentando em casa. Tudo isso gera ansiedade.” 

Para o coordenador da regional de educação da Secretaria de Educação do Ceará, Gerso Morais, a urgência do problema impulsionou uma solução ágil que envolveu professores, alunos e outros profissionais da educação.

“A necessidade é a mãe da criatividade. Apesar de ser pequeno, o município tem uma necessidade grande de apoio emocional e tem uma estatística um pouco triste neste quesito da saúde mental.”  

O projeto “Adote um Estudante” conseguiu reduzir em 67% o número de estudantes que precisam de apoio social e emocional em 18 meses, com encaminhamento de parte deles a psiquiatras.

“Hoje temos alunos protagonistas que ajudam o Guilherme na articulação do projeto”, conta o diretor da escola, Helton Souza Brito, destacando o engajamento na manutenção do projeto daqueles que foram ajudados pela iniciativa. 

Atualmente, menos de 10 estudantes ainda recebem assistência. O projeto aproximou a comunidade escolar e desmistificou o tema da saúde mental.

“Nas reuniões de pais, a gente sensibilizava os cuidadores de que o projeto existia, mas ainda havia rejeição à figura do psicólogo e à ideia de psicoterapia. As pessoas têm preconceitos”, relata o diretor. “A sensibilização foi ajudando a esclarecer as pessoas e os pais foram se abrindo mais, alguns até nos procuram ativamente hoje.”  

A escuta e o apoio emocional renderam frutos também nos resultados de aprendizado. Os professores relatam melhora no desempenho dos alunos acolhidos.

“O fator principal de sucesso foi saber que nenhum dos alunos atendidos no projeto desistiu. Isso é muito relevante, a principal evidência de que deu certo”, celebra Helton Souza Brito. “Outro ponto foi ver alunos que não tinham perspectiva, nem motivação entrarem na universidade. Alguns até buscaram a faculdade de psicologia, porque se interessaram e se identificaram. E tem ainda o feedback dos pais, muito positivo.” 

O destaque na premiação internacional ajudou a fazer da iniciativa ainda mais conhecida em outras partes do Brasil e do mundo – o que anima e motiva o professor que criou a ideia.

“É um projeto que nasceu aqui na escola, mas que a gente quer que chegue a outros lugares. Recentemente, uma professora de Portugal nos procurou para levar a ideia para lá e implantar em escolas de regiões periféricas”, destaca Guilherme Barroso Melo. 

Para o diretor da escola, o grande diferencial do projeto foi, primeiro, ter se inserido em um contexto mundial em que a saúde mental era uma preocupação. Além disso, ele considera ter sido importante a solução ter aparecido em uma escola pública.

“Buscar soluções diante dos recursos e das possibilidades que nós temos e a questão voluntariada fizeram diferença”, avalia Helton Souza Brito, que ainda atribui os bons resultados ao envolvimento de toda a comunidade escolar. “A comunidade foi abraçada e abraçou o projeto também. Hoje tem várias escolas que nos procuraram para saber como é, querem implementar coisas parecidas.” 

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