Grupo com representantes de 156 escolas vai se reunir mensalmente para discutir ações que fomentem o protagonismo
Luca Misse é hoje um estudante de publicidade e propaganda de Vitória, capital capixaba. No início de julho, ele participou de uma reunião que chamou de nostálgica. “Vi alguns professores que me deram aula e me ajudaram a ser quem sou hoje, me conectou com meu Ensino Médio”, relembra. Era o primeiro encontro de uma série mensal que vai reunir estudantes protagonistas de todas as escolas de Ensino Médio Integral no estado para qualificar as ações de protagonismo dos alunos, um dos pilares dessa política pública.
São 156 escolas em todo o Espírito Santo e cada uma participa com dois representantes. A primeira ação foi uma semana de engajamento para que os estudantes se conhecessem e criassem uma logo do grupo, que ganhou, por votação, o nome de Geração Protagonista. Luca, que já concluiu a educação básica, não estava lá por acaso: egressos do Ensino Médio Integral lideram essas ações e vão participar das reuniões até o fim do ano, quando haverá um encontro de culminância presencial em Vitória.
“Eu acho que o mais importante é mostrar aos alunos que eles podem fazer mais por eles e pelos colegas dentro da escola. Mostrar que há, sim, formas de transformar a escola em um local legal, confortável e atrativo”, conta Luca. “E, mesmo que eles não consigam mudar muito, vão impactar os colegas e suas famílias com o seu protagonismo, sendo por meio de um abraço mais carinhoso na entrada da escola ou na hora de decidir alguma coisa dentro da instituição de ensino. É importante mostrar que eles podem mais e ter a noção que eles entenderam isso.
É uma iniciativa inédita no estado, que nunca realizou uma mobilização tão robusta com os jovens protagonistas. A primeira reunião formativa, realizada ainda em julho, teve justamente o protagonismo como tema. As próximas vão tratar de acolhimento diário, para discutir como a prática, forte no começo de cada ano, pode manter potência ao longo do ano letivo; bem-estar e saúde emocional; comunicação não-violenta; e educação midiática, respeito e empatia. O encontro presencial do fim do ano vai ser um fórum de boas práticas de protagonismo – cada escola vai apresentar o que está sendo feito.
O Instituto Natura atua como organização indutora do programa, apoiando tecnicamente na implementação e na organização, e preparando a efetivação de um grupo inspirado na iniciativa dos Estudantes Porta-Vozes, também focada em desenvolver o protagonismo dos jovens.
Para Luca, a troca de vivências e histórias é o que há de mais relevante no projeto. Ele conta que os egressos também trazem o ponto de vista de quando foram estudantes do Ensino Médio Integral. “É interessante ver como as coisas mudaram e contar como a gente viveu esse período tão turbulento e gostoso na escola de tempo integral. Também mostrar que o que a gente está fazendo agora”, diz.
Renatta Freitas Proeschaldt, que hoje trabalha como cuidadora no município de Afonso Cláudio, também é egressa e participa do projeto. Ela enxerga como mais valioso nas ações que desenvolvem o protagonismo a possibilidade de que esse desenvolvimento extrapole os muros da escola. “O jovem também coloca esse protagonismo em ação na comunidade em que vive, em casa e em outros espaços”, avalia. “A gente aprende a ter autonomia e a criar metas. A nossa participação como egressos leva a uma troca de aprendizados entre nós, que já fomos, e eles, que agora são. E isso ajuda a melhorar o ambiente escolar e a rede de ensino do estado.”
Luca vê a escola integral como um estímulo de transformação e uma possibilidade de construção de futuro. “Passar nove horas dentro da escola e fazer tanta coisa quanto eu fiz me possibilitou aprender com as quedas que tive ao longo da jornada. Se eu tivesse passado por elas sem nenhum apoio, eu estava ferrado. O apoio dos meus professores foi a coisa mais importante, que influenciou minha jornada e como eu sou como pessoa, estudante, adolescente e cidadão.”
