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Material pedagógico extrapola livros e abraça características dos territórios 

Evento discutiu educação antirracista e importância de conteúdos que incluam história e cultura ancestrais 

Um livro no idioma guarani que mostra a relação do povo indígena com a caça; um jogo de tabuleiro quilombola que resgata a história e a ancestralidade do povo negro; diálogos com anciãos da comunidade para aprender as tecnologias sociais históricas. Estes são exemplos de materiais didáticos que foram apresentados em uma das mesas da segunda edição do “Diálogos Antirracistas: educação, democracia e equidade”, organizado pelo CEERT (Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades). 

A roda de conversa “Por uma educação antirracista: produção e uso de materiais didáticos” foi mediado pela analista de projetos sênior do Instituto Natura Glória Almeida, que conversou com professores e pesquisadores sobre a importância da construção e do uso de materiais que dialoguem com a realidade dos territórios. A ideia era convidar educadores a pensar diferentes estratégias de produção de materiais antirracistas. 

Entre os participantes da discussão estava Vanderlucia Cutrim, professora da escola quilombola Catucá, no Maranhão, que destacou com exemplos a relevância da perspectiva afrocentrada do material pedagógico.

“A professora chamou atenção para o quanto a ancestralidade, a história, a religiosidade e a cultura africana são importantes na construção desses materiais, resgatando tecnologias sociais históricas”, descreve Glória Almeida. “Ela contou de um jogo de tabuleiro da comunidade quilombola, de trocas com as pessoas mais velhas, de conhecimentos sobre as vivências na floresta e na agricultura – muito além dos livros. Claro que os livros importam, mas também é  fundamental trazer essa perspectiva do território.” 

Diálogos Antirracistas: educação, democracia e equidade”, organizado pelo CEERT (Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades). 

A roda de conversa também incluiu Acácio Jacinto, gerente-adjunto do Canal Futura, que tem levado ao ar uma série sobre racismo estrutural e branquitude, com um conteúdo para que professores também possam usar em sala; Mário Rogério, Coordenador do Edital Equidade Racial na Educação Básica do CEERT, que apresentou um panorama geral de números do que o Centro de Estudos tem produzido com o apoio de pesquisadoras negras doutoras, disponível na plataforma ANANSI; e Cláudia Gonçalves (Jakuxa), professora da Escola Estadual Indígena Gwyra Pepo, em São Paulo, que contou como foi produzido o livro em idioma guarani que resgata parte da cultura e das tradições do povo indígena. 

“Ficou muito evidente como tem tanta gente engajada na temática étnico-racial e quanto é necessário ter uma coordenação”, explicou a analista sênior do iN. “Seria importante que os governos federal, estadual e municipal se aproximassem dessas experiências para conseguir escalar e levar para outros lugares. As iniciativas já estão fazendo isso; ao mesmo tempo, a gestão não sabe como formar professores ou produzir materiais. Poderia haver uma troca de experiências superprodutiva.” 

O evento do CEERT, que durou três dias, em outubro, teve como bases a educação antirracista, a equidade no trabalho, a justiça racial, as juventudes negras e a realidade dos sobreviventes do cárcere. Todos os painéis, mesas e rodas de conversa tinham como objetivo discutir o papel da população negra na construção de uma sociedade mais justa e equânime. 

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