Nas escolas brasileiras, o uso de celulares está proibido. A lei que restringiu os aparelhos eletrônicos nas escolas públicas e privadas não impede que os celulares sejam levados pra escola, mas impede que eles sejam usados pelos alunos.

Tem algumas exceções, como o uso dos aparelhos para atividades didáticas ou pedagógicas sob supervisão de professores, o uso por motivos de saúde ou em algumas situações de emergência – nesses casos, cada escola tem um protocolo de comunicação para permitir que os alunos recorram aos telefones pra falarem com a família em caso de necessidade.

O decreto que regulamenta a medida fala em proteger a saúde mental, física e emocional de crianças e adolescentes e em um uso intencional e estratégico da tecnologia para potencializar o ensino e a aprendizagem.

Uma pesquisa feita pelo Instituto Locomotiva e pela QuestionPro mostrou que oito em cada dez alunos são favoráveis à proibição – um índice semelhante ao de pais e mães que aprovam essa regra.

Neste episódio, o diretor presidente do Instituto Natura, David Saad, conversa com o o pesquisador Fabio Campos, do Laboratório de Tecnologias de Aprendizagem Transformadores da Universidade de Columbia, sobre o uso dos celulares nas escolas e dos impactos da proibição. Eles também discutem se tem um jeito de usar celulares e outros eletrônicos como aliados na educação.

“Nas minhas andanças pelas escolas, sobretudo do Rio de Janeiro, que é onde eu trabalho, vejo que os professores estão muito aliviados por não precisarem mais ser as fadas más dessa história”, conta Fabio Campos, lembrando do momento anterior à lei, em que os docentes eram os responsáveis por insistir que os alunos deixassem o celular de lado. “Nem os adultos estão com uma relação saudável e positiva com o dispositivo móvel”, pontua. “Então é importante proteger a infância.

O pesquisador avalia que a proibição do uso de celulares na escola é um fracasso social, mas mesmo assim é preciso proibir. Campos destaca, no entanto, que é possível haver um uso intencional e positivo da tecnologia nas escolas e enfatiza que isso precisa ser mais bem delimitado pelas autoridades da área de educação na construção das políticas públicas. Para ele, também é preciso avançar na regulamentação da lei em vigor: “Precisa ficar claro como essa proibição acontece – onde fica o celular? Também [definir] qual é o papel da família, o que a família pode fazer pra não deixar tudo nas costas da escola. Essa lei precisa ser bem praticada ou vai virar mais uma lei de fachada”.

O Podcast do Instituto Natura é uma produção do Estúdio Guarda-Chuva para o instituto e tem episódios quinzenais, publicados às segundas-feiras.