Expansão do Ensino Médio Integral reduz gravidez na adolescência


Estudo apoiado pelo Instituto Natura mostra perenidade em efeitos da política educacional

As evidências de que o Ensino Médio Integral tem efeitos para além da sala de aula e dos muros da escola ganham reforço. Um estudo realizado pelas pesquisadoras Lorena Hakak (FGV e GeFam) e Kelly Santos (FGV) e apoiado pelo Instituto Natura mostrou que essa política educacional contribui para reduzir a desigualdade de gênero.

Entre os indicadores medidos, a pesquisa comparou os índices de gravidez na adolescência em regiões com mais e menos matrículas abertas no Ensino Médio Integral. O resultado aponta que um aumento de mil matrículas no Ensino Médio Integral está associado à redução de 114 jovens em idade escolar grávidas no município.

“Temos aula de projeto de vida, projeto de futuro, de protagonismo; os estudantes são incentivados a serem líderes de turma, gremistas, acolhedores. Tudo isso amplia o olhar e traz uma outra perspectiva em relação ao futuro”, avaliou Jéssica de Jesus Nascimento, diretora de uma escola de Ensino Médio Integral, em entrevista à TV Cultura.

As pesquisadoras analisaram os partos realizados em mães que tinham entre 15 e 17 anos, de 2016 a 2022 – período em que a oferta de vagas no Ensino Médio Integral passou de 392 mil para 1,1 milhão. Os dados do Censo Escolar da Educação Básica (fornecidos pelo INEP) e do Sistema de Informação de Nascimento (disponíveis no DATASUS) embasaram o estudo.

Os achados revelam que a maternidade na adolescência atinge de forma desproporcional jovens negras, sendo um fenômeno complexo associado não apenas à menor escolaridade, mas também à ausência de políticas públicas eficazes, aos impactos do racismo sistêmico, às interseccionalidades de gênero e raça e à coisificação de seus corpos, fatores que perpetuam profundas desigualdades no cuidado materno-infantil. Apesar disso, a expansão do Ensino Médio Integral demonstrou um efeito positivo e persistente na redução de nascimentos entre mães jovens, reforçando a importância central da educação como um pilar fundamental no enfrentamento dessas disparidades, mesmo que a solução completa demande uma abordagem multifacetada e integrada.

“A jovem que está inserida na escola, no Ensino Médio Integral, tem mais acesso a outros cursos. O aluno fica mais engajado no processo educacional e isso abre horizontes, com um interesse maior em prosseguir nos estudos. A gravidez passa a ser uma questão que será deixada para o futuro, não para agora”, explica a pesquisadora Lorena Hakak.

Segundo dados do Censo Escolar 2024, cerca de 35% das escolas públicas de Ensino Médio ofertam turmas em tempo integral chegando a 1,3 milhão de estudantes (20,7%). O Instituto Natura apoia a expansão dessa proposta pedagógica para transformar a educação brasileira e ampliar o desenvolvimento humano no país.

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