7 em cada 10 casos de violência doméstica são testemunhados por outras pessoas; em 70% deles, há crianças

Dados da nova Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher já estão refletidos no Mapa Nacional da Violência de Gênero.
Sete em cada dez mulheres que sofreram violência doméstica no último ano foram agredidas diante de outras pessoas. Em 70% desses episódios, havia uma criança no local. Os dados integram a 11ª edição da Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher, realizada pelo Instituto de Pesquisa DataSenado e pela Nexus, em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência. Ao todo, 3,7 milhões de brasileiras declararam ter vivido episódios de violência doméstica ou familiar nos últimos 12 meses.
Pela primeira vez, o estudo investigou a presença de testemunhas no momento das agressões. Para Marcos Ruben de Oliveira, coordenador do Instituto de Pesquisa DataSenado, parceiro do Instituto Natura, “o fato de 71% das mulheres serem agredidas na frente de outras pessoas e, dentre esses casos, 7 em cada 10 serem presenciados por pelo menos uma criança, mostra que o ciclo de violência afeta muitas outras pessoas além da mulher agredida”.
Desde 12 de novembro, os resultados da pesquisa estão disponíveis no Mapa Nacional da Violência de Gênero, plataforma pública e interativa idealizada pelo Observatório da Mulher contra a Violência do Senado Federal, pelo Instituto Natura e pela Gênero e Número, que reúne dados de diferentes fontes para fortalecer o enfrentamento da violência de gênero e aprimorar políticas públicas.
Redes pessoais são mais acionadas do que serviços públicos
A pesquisa mostra que as mulheres buscam apoio principalmente nas redes pessoais. Entre as vítimas em 2025, 57% recorreram à família, 53% à igreja e 52% a amigas e amigos. Apenas 28% registraram denúncia em Delegacias da Mulher e 11% acionaram o Ligue 180. Entre recortes de fé, 69% das evangélicas procuraram amparo religioso, enquanto 59% das católicas buscaram apoio familiar.
Para Beatriz Accioly, antropóloga e líder de Políticas Públicas pelo Fim da Violência contra Meninas e Mulheres do Instituto Natura, “é essencial que quem acolhe, seja um familiar, uma liderança religiosa ou uma amiga, saiba orientar com clareza sobre os caminhos e órgãos responsáveis pelo atendimento, garantindo que essa mulher se sinta segura para buscar proteção e exercer seus direitos”.
Impactos sobre rotina, relações, trabalho e estudo
Entre as mulheres que já sofreram violência doméstica, 69% tiveram sua rotina diária afetada. Para 68%, houve prejuízo no convívio com outras pessoas. A violência também influenciou a vida profissional, relatada por 46% das vítimas, e os estudos, mencionados por 42%. Os efeitos são ainda maiores entre mulheres jovens de 16 a 29 anos, que relatam mais prejuízos nos estudos, chegando a 50%, e no convívio com outras pessoas, alcançando 76%. Mulheres com ensino superior completo também aparecem entre as mais afetadas no convívio, com 77%, e na rotina diária, com 76%.
Segundo Maria Teresa Firmino Prado Mauro, coordenadora do Observatório da Mulher contra a Violência do Senado Federal, “a pesquisa evidencia que a violência de gênero não é um problema isolado, mas uma questão estrutural que afeta famílias e comunidades e exige uma resposta coletiva, coordenada e permanente”.
A dimensão econômica da violência
A desigualdade econômica aprofunda vulnerabilidades e limita alternativas de rompimento do ciclo de agressões. Entre as mulheres que já sofreram violência em algum momento da vida, mais de um terço afirma não conseguir se sustentar, o que representa mais de 8,5 milhões de mulheres. Além disso, 66% recebem até dois salários mínimos, metade não exerce trabalho remunerado e, entre as que trabalham, 35% atuam por conta própria. Na informalidade, estão 67% das mulheres vítimas que trabalham. Também chama atenção o fato de 58% das entrevistadas conviverem com situações de violência há mais de um ano.
Desconhecimento sobre direitos e serviços de proteção
A pesquisa revela que 67% das brasileiras conhecem pouco a Lei Maria da Penha e 11% não a conhecem. Esse desconhecimento é maior entre mulheres com menor escolaridade. Entre brasileiras analfabetas, o percentual sobe para 30%, e entre as que têm apenas o ensino fundamental incompleto, chega a 20%. Entre as mulheres com ensino superior completo, o desconhecimento cai para 3%. Apesar disso, três em cada quatro brasileiras acreditam que a lei protege totalmente ou em parte as mulheres.
Quando perguntadas sobre outros mecanismos de proteção, a Delegacia da Mulher é o serviço mais conhecido, citado por 93% das brasileiras. Em seguida, aparecem a Defensoria Pública com 87%, CRAS ou CREAS com 81%, Ligue 180 com 76%, Casa Abrigo com 56%, Casa da Mulher Brasileira com 38% e outros serviços com 5%. De modo geral, o conhecimento sobre esses serviços se manteve estável em relação às edições anteriores da pesquisa, com exceção dos serviços de assistência social, que registraram aumento no percentual de desconhecimento.
Para a senadora Augusta Brito, demandante da 11ª edição da pesquisa, “os dados mostram que as brasileiras que mais sofrem com a violência de gênero são justamente as que menos conhecem seus direitos e os caminhos de proteção. Isso reforça a importância de ampliar o acesso à informação e à rede de apoio”.
Nomear as violências é o primeiro passo para enfrentá-lasDurante os 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres, a Avon e o Instituto Natura ampliam a campanha “Sim, é violência. Chame pelo nome” em toda a América Latina. A iniciativa convida todas as pessoas a reconhecerem as diferentes formas de violência doméstica e a se envolverem na transformação. Acesse a página especial, conheça a mobilização e veja como ser parte da transformação social para erradicarmos a violência contra meninas e mulheres.







