4 brasileiras são mortas por feminicídio todos os dias ao longo dos últimos 5 anos


Dados do Mapa Nacional da Violência de Gênero mostram que, apesar da Lei do Feminicídio, ações seguem ineficazes

O Brasil mantém a média alarmante de quatro mulheres assassinadas por dia por feminicídio há cinco anos, segundo dados do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp) do Ministério da Justiça, reunidos pelo Mapa Nacional da Violência de Gênero, plataforma criada pelo Senado Federal, Instituto Natura e Gênero e Número. O levantamento foi destaque no programa Bom Dia Brasil, da TV Globo, e expõe a ineficácia das ações do Estado para conter crimes previsíveis e preveníveis. Outros importantes veículos têm repercutido as informações, como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Estadão, CBN e Glamour.

Na atualização com dados do 1º semestre de 2025, já são 718 mulheres mortas por feminicídio. Em números absolutos, São Paulo (128) lidera no período, seguido por Minas Gerais (60), Bahia (52), Rio de Janeiro (49) e Pernambuco (45). Amapá (8), Roraima (33) e Tocantins (43) registram os menores totais, observada a diferença populacional. Desde a criação da Lei do Feminicídio (2015), o país soma 12.380 vítimas desse crime. 

Os dados também apontam patamares elevados de violência sexual. De janeiro a junho de 2025, houve 33.999 estupros de mulheres (média de 187 por dia). Em junho, as maiores taxas por 100 mil habitantes foram Rondônia (16), Amapá (13) e Roraima (13), enquanto Rio Grande do Norte, Distrito Federal e Ceará registraram três. Em 2024, foram 75.061 estupros no ano e, considerando os últimos cinco anos, a média é de 195 estupros notificados por dia — lembrando que a maioria dos casos não chega às autoridades, o que indica subestimação do problema. 

61% das violências não são registradas 

A Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher (DataSenado, 2023), disponível no Mapa, revela que 61% das ocorrências não são registradas (subnotificação) e que sete em cada dez vítimas não solicitaram medidas protetivas após a violência. Além disso, 68% das mulheres entrevistadas declararam conhecer “pouco” o funcionamento dessas medidas — evidência da urgência de ampliar informação e acesso. 

Para Maria Teresa Firmino Prado Mauro, coordenadora do Observatório da Mulher contra a Violência (OMV) do Senado Federal, os impactos se espalham muito além do momento do crime. “Cada caso de violência tem repercussões que vão muito além do momento do crime. Mulheres e famílias sofrem impactos psicológicos, sociais e econômicos duradouros, o que evidencia que a violência de gênero é um problema que atravessa toda a sociedade”, afirma.  

A diretora-executiva da Gênero e Número, Vitória Régia da Silva, reforça que os números pedem resposta urgente e estruturada do poder público: “os dados revelam que o Brasil falha diariamente em proteger mulheres e meninas, mesmo quando falamos de crimes previsíveis e preveníveis, como o feminicídio e o estupro. É preciso transformar informação em ação concreta, com prioridade política, orçamento e políticas públicas de qualidade.” 

Segundo Beatriz Accioly, líder de Políticas Públicas pelo Fim da Violência Contra as Mulheres do Instituto Natura, o tema ainda é tratado como algo da esfera da moral e não como de responsabilidade da gestão pública, com prioridade, orçamento e planejamento. “Precisamos fortalecer a rede de atendimento e enfrentamento, em especial fora das capitais, para garantir resposta rápida e eficaz às denúncias e pedidos de apoio. Isso precisa funcionar de maneira articulada, com uma rede formada por diferentes setores  – Saúde, Assistência Social, Segurança Pública – e olhando para a jornada da mulher, cidadã, usuária dos serviços públicos nas suas necessidades”, reforça. 

O Mapa reúne dados oficiais (SIM, SINAN, CNJ, Sinesp, MRE e DataSenado), com recortes regionais e étnico-raciais, para orientar políticas públicas de prevenção, proteção, investigação e responsabilização. 

Informação salva vidas: acesse o Guia de Bolso para Relacionamentos Saudáveis  para conhecer as formas de violência contra as mulheres e os canais e redes de apoio.  

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