Ensino Médio Integral contribui para reduzir desigualdade de gênero


Dados do Censo Escolar, do Censo do Ensino Superior e do Sinasc (Sistema de Informação de Nascidos Vivos) foram a base de um estudo apoiado pelo Instituto Natura que mostrou os impactos do Ensino Médio Integral na redução da desigualdade de gênero.

Entre as conclusões da pesquisa, estão a redução de 114 casos de gravidez na adolescência a cada 1.000 novas vagas integrais no ensino médio, além de ampliação da entrada e conclusão no ensino superior por mulheres e maior presença delas no mercado de trabalho.

O estudo considerou o período entre 2016 e 2022, quando houve uma expansão nas vagas de Ensino Médio Integral (eram 492 mil matrículas em 2016 e passaram para 1,29 milhão em 2022).

Sobre os indicadores de gravidez na adolescência, houve uma redução de 14,3 adolescentes grávidas para cada 100 matrículas no Ensino Médio Integral, em cidades com mais 100 mil habitantes. Nas que têm menos de 100 mil habitantes, para cada 100 matrículas, a redução foi de 1,3 jovem grávida.

De acordo com a pesquisadora e professora da FGV Lorena Hakak, uma das responsáveis pelo estudo, a jornada estendida da proposta integral já é um qualificador de resultados na vida dos estudantes – o que também é observado em outros países. “Encontramos agora essa similaridade no Brasil e podem ser muitas as causas: as meninas que ficam mais tempo na escola podem receber mais informações sobre métodos contraceptivos, ampliarem o horizonte sobre a importância dos estudos, se interessarem por mais disciplinas”, disse, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo.

Mas a pesquisadora pontua que apenas a extensão da carga horária, sem uma proposta pedagógica robusta, pode ser insuficiente. No caso do Ensino Médio Integral, o modelo consiste também na oferta de uma formação que extrapola o conteúdo em sala de aula. Focada no protagonismo dos estudantes e no apoio a um projeto de vida, a proposta pedagógica inclui, por exemplo, o desenvolvimento de habilidades socioemocionais.

Para Lorena Hakak, as políticas de educação integral têm permitido que as jovens priorizem a formação, o que também tem impactos depois que elas concluem a Educação Básica. Para cada 100 novas matrículas integrais, há 73,7 novas mulheres em cursos de ensino superior e 52,9 novas graduadas; também há a geração de 38 novos postos de trabalho ocupados por mulheres.

O diretor-presidente do Instituto Natura para a América Latina, David Saad, aponta que a melhora dos indicadores observados na pesquisa sugere um avanço socioeconômico não apenas das mulheres diretamente impactadas pela política pública educacional, mas também da comunidade em que elas estão inseridas.

“Quando políticas públicas sustentam a expansão do ensino em tempo integral de forma eficiente, os alunos ficam menos expostos a situações de vulnerabilidade social. Isso traz outro ponto fundamental: manter as jovens na escola amplia suas possibilidades de escolha e de construção de novos caminhos”, avalia.

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