Escrito por Emmanuel Macêdo

Nos primeiros dias de dezembro, o Instituto Natura (iN) promoveu um seminário gratuito para debater o Ensino Médio Integral, que contou com a participação de gestores públicos, autoridades, especialistas e representantes da sociedade civil.
Realizado virtualmente, o evento intitulado “Seminário Ensino Médio Integral” também serviu para apresentação de uma pesquisa inédita do especialista Ricardo Paes de Barros sobre a Avaliação do Impacto do Ensino Médio Integral em Tempo Integral (EMITI) em Santa Catarina. 
Para a realização do evento, o iN teve a parceria do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) e o apoio do Instituto Sonho Grande e do Instituto de Corresponsabilidade pela Educação (ICE).
Ficou curioso para saber como foi? É só acessar: https://www.youtube.com/institutonaturavideos.
Cecília Mota, Secretária da Educação do Mato Grosso do Sul e Presidente do Consed, conta sobre os resultados do Ensino Médio Integral no Mato Grosso do Sul. 
Josué Modesto, Secretário de Educação de Sergipe, conta sobre os desafios e oportunidades na implementação do Ensino Médio Integral. 

Resultados

No primeiro dia de evento, os painelistas destacaram que o caminho para o desenvolvimento educacional brasileiro passa pelo Ensino Integral. Com evidências e resultados claros, foi apresentado um painel do Ensino Médio Integral com as experiências dos estados pioneiros do modelo.
“Essa deve ser a grande política deste país”, diz o governador do Ceará, Camilo Santana, o primeiro a participar do painel. “Saímos de 12º lugar para 4º lugar no último Ideb divulgado. [quando analisava o custo do Ensino Médio Integral] Não é custo, é investimento”, completa. O Ceará começou a investir no Modelo Integral ainda no Ensino Fundamental, há mais de 10 anos. De uns anos para cá, integrou o Ensino Médio e os resultados colhidos são animadores. No estado, a construção das disciplinas ofertadas nas escolas segue uma lógica de discussão com a comunidade, atribuindo ainda mais o protagonismo aos estudantes.
De 2017 a 2019, o Ceará passou de 1% para 15% de escolas com Ensino Médio Integral em Tempo Integral. Os dados estão em um estudo elaborado pelo Instituto Natura e o Instituto Sonho Grande utilizando números do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). Já o vizinho Pernambuco é o principal destaque do país e conta com 52% de cobertura. “A Educação é o maior investimento em prevenção. Sabemos do seu alcance e da necessidade de apostarmos nesse caminho para termos o país que queremos para o futuro”, destaca o governador pernambucano Paulo Câmara, que também esteve presente no primeiro dia do evento.
O sucesso apresentado pela Política em Pernambuco é resultado do alto engajamento do estado, que se comprometeu com a expansão desse modelo para 70% das escolas de Ensino Médio. O Ceará também se comprometeu com a expansão e a meta do estado é implementar em 50% das escolas.
A Paraíba também apostou na expansão rápida do Ensino Médio Integral. O secretário Executivo de Educação Gabriel Gomes destacou o avanço do Ensino Médio Integral de 9% para 34% entre 2017 e 2019. Nesse período, o Ideb avançou 0,5 ponto, passando de 3,1 para 3,6. “Ao mesmo tempo [desse crescimento], fomos observar melhoria nos dados de outras áreas, como a de Segurança, em regiões que implantamos as Escolas de Tempo Integral”, explicou o secretário, que já foi diretor de escola, coordenador, e viveu todo o impacto tanto na escola quanto como gestor estadual. 
“Já temos de preparar um novo modelo de escola de tempo integral aos olhos do Novo Ensino Médio e da Base Nacional Comum curricular. Mas que não perca a essência do que vem sendo feito”
Fred Amancio, secretário da Educação de Pernambuco
Assista aos trechos das falas dos participantes do primeiro dia. Para as falas completas, acesse o YouTube do Instituto Natura
Camilo Santana (CE)
Governador do Ceará
Paulo Câmara (PE)
Governador de Pernambuco
Fred Amancio (PE)
Secretário da Educação do Estado de Pernambuco
Gabriel Gomes (PB)
Secretário Executivo de Gestão Pedagógica da Paraíba
Reinaldo Azambuja (MS)
Governador do Mato Grosso do Sul

Expansão

No segundo dia de evento, os painelistas discutiram o desafio da expansão do modelo até a universalização. Um dos principais pontos de atenção nesse percurso é o investimento na implementação das escolas e na manutenção do planejamento de expansão. Afinal, como investir em momento de crise econômica? 
O secretário da Educação do Estado de São Paulo, Rossieli Soares, e a secretária da Educação do Estado de Minas Gerais, Julia Sant’Anna, explicaram que a garantia de orçamento público para essa Política pode ser desafiadora, mas não deve ser impeditivo, pois o resultado apresentado pelas escolas de Ensino Médio Integral são comprovados e o país já está atrasado na política em relação a outros países. São Paulo e Minas Gerais vêm expandindo fortemente o modelo em suas redes estaduais de ensino.
Em São Paulo, o Programa de Ensino Integral (PEI) crescerá cerca de 300% em 2020 e 2021. Por ser um programa comprometido com o modelo de Ensino Integral, os estudantes têm uma matriz curricular que incluí disciplinas eletivas, projeto de vida, orientação de estudos e práticas experimentais. Os estudantes possuem também um professor tutor para apoiar na construção dos seus projetos de vida. Em São Paulo, esses conceitos do Ensino Integral ainda são implementados também nas escolas regulares.
“Muitos desafios são comuns aos estados. Por exemplo, fazer uma virada de escolas integral para 2021 sem saber como estará a economia. Para isso tem de ter uma pitada de coragem. Mas todos que fizeram têm certeza que este é o caminho”, aponta Rossieli Soares.
Já Minas Gerais terá mais 119 escolas com Ensino Médio em Tempo Integral, uma alta de 43,4% em 2021. Assim, o estado passará das atuais 274 para 393 escolas. Julia Sant’Anna ponderou que a participação do Ministério da Educação é fundamental e que é necessário dar continuidade ao investimento federal na expansão da Política de Fomento. Essa política oferece uma direção de impacto mais expressivo para todo o Brasil, dando fôlego aos estados, uma vez que a folha de pagamento sofre um aumento quando se passa para o modelo integral.
“Nós encontramos um estado quebrado. Só a Educação tinha R$ 3 bilhões em dívidas. Tínhamos um ano inteiro sem repasse de merenda, com as escolas sobrevivendo apenas com o PNAE. Nesse contexto assumimos e não tínhamos como acreditar que algo poderia ser feito para ampliar o ensino integral. Mas fomos estudar muito os dados para ver a situação de forma mais profunda e percebemos que havia muito espaço para reorganização de políticas e estruturação sem mais perda. É trabalho de gestão”, conta Julia Sant’Anna. 
O painel “Expansão EMI – Dialogar” teve como objetivo a troca de experiências sobre como estados conseguem superar esses desafios encontrados e seguir adiante com o modelo. A Paraíba, que foi representada pelo secretário executivo de Educação Gabriel Gomes no primeiro dia, também participou no segundo dia, agora com o secretário da Educação Cláudio Furtado. “Os avanços só são possíveis graças ao empenho dos professores, da nossa comissão das escolas integrais cidadãs (como são chamadas na Paraíba), dos nossos estudantes protagonistas, que fazem com que possamos levar a propaganda do modelo para mais municípios”. Cláudio relatou, ainda, que a Paraíba prioriza regiões com indicadores mais altos de vulnerabilidade social e que, apesar de muito importante, as condições de infraestrutura não devem ser impedimento para a expansão. As adequações podem ser feitas após a implementação do modelo pedagógico. 
Participou também, no segundo dia, a secretaria de Educação de Goiás Fátima Gaviolli, que reforçou o valor da parceria com o terceiro setor, como a participação do Instituto Natura e parceiros fazem em diversos estados pelo Brasil.
“A partir de 2022, teremos menos jovens do que pessoas da melhor idade. O bônus demográfico vira e, por isso, não podemos errar com esses jovens que estão chegando”
Rossieli Soares, secretário da Educação do Estado de São Paulo
Assista aos trechos das falas dos participantes do segundo dia. Para as falas completas, acesse o YouTube do Instituto Natura
Julia Sant’Anna (MG)
Secretária da Educação do Estado de Minas Gerais
Romeu Zema (MG)
Governador do Estado de Minas Gerais
Cláudio Furtado (PB)
Secretário da Educação do Estado da Paraíba
Rossieli Soares (SP)
Secretário da Educação do Estado de São Paulo
Josué Modesto (SE)
Secretário de Educação de Sergipe

Inspirar

Para encerrar o terceiro dia de evento, o painel “Impactos Sociais do Ensino Médio Integral” debateu sobre o propósito desse modelo de Escola e os impactos sociais de sua implementação por meio da participação de quem vivenciou a mudança de perto. Os painelistas destacaram que o modelo é uma solução potente para a transformação da vida dos jovens, das comunidades e da sociedade. 
Estudo realizado pelo Instituto Sonho Grande com egressos de Escolas em Tempo Integral do estado de Pernambuco mostra que existe uma relação de aumento de renda entre os estudantes do Tempo Integral quando comparados aos estudantes do Ensino Médio parcial. Esse crescimento da renda vem na esteira do aumento da aprendizagem do estudante do Tempo Integral. 
Além do acesso à educação de qualidade, os estudos mostram que o Ensino Médio Integral é forte aliado na promoção da equidade. O estudo apontou que existe um aumento de renda logo no início da carreira do jovem, com uma maior probabilidade de indivíduos oriundos de Escolas Integrais estarem em faixas de renda superiores. Mas o resultado mais impactante está apresentado na diferença salarial entre os egressos de Pernambuco das raças branca e preta. O segundo grupo normalmente aparece, nas escola regulares, com ganhos 10% inferiores. No entanto, nas Escolas de Tempo Integral a diferença não mais existe, mostrando a capacidade de trazer também uma equidade racial.  
A probabilidade de ingressar no Ensino Superior é 17 pontos percentuais maior para indivíduos formados em escolas integrais (63% contra 46% das parciais), uma diferença significativa. “A escola precisa fazer sentido para o estudante. À medida que ele entende que ele pode ter um futuro, pode sonhar, tudo fica mais simples, tudo fica mais agradável”, diz Vitor Arruda, estudante egresso de uma das primeiras escolas de Ensino Integral de Pernambuco e que participou das discussões no terceiro dia de evento.
Além de Vitor, estudante, o terceiro dia trouxe a visão do professor. Jôsi Santos, professora de Projeto de Vida, contou a experiência vivida com o modelo. “O professor de Projeto de Vida tem a oportunidade de ter um olhar mais atento às particularidades de cada um. Ele vê o aluno além daquilo de receber o conhecimento intelectual.”  
O evento trouxe as experiências e os esforços que são realizados no Brasil inteiro. No Maranhão, por exemplo, o governador Flávio Dino destacou sua medida para a melhoria da infraestrutura nas escolas. “No primeiro dia de governo, no dia 1º de janeiro de 2015, criamos o programa Escola Digna. Assinei o decreto para melhoria de infraestrutura das escolas e hoje estamos com mais de mil obras concluídas”, explica, apresentando também outras medidas importantes que precisam estar acompanhadas do modelo integral.
A deputada Tabata Amaral e o professor Ricardo Paes de Barros, também presentes na discussão, lembraram da pandemia como o fator que aumentará a desigualdade no país. “Temos um sistema educacional que gera uma quantidade de desigualdade quando a escola deveria ser um lugar de igualdade”, diz Paes de Barros. “Vamos sair da pandemia com um défict muito grande, com uma dívida histórica social ainda maior. Enquanto alguns alunos conseguiram estudar porque têm uma mesa e um computador, outros não têm nem isso”, lembrou Tabata. A deputada acrescentou a importância do investimento no modelo integral “Políticas como essa são importantes neste momento que os estudantes estão perdendo a esperança, estão perdendo o vínculo com a escola e perdendo o futuro”.
Assista aos trechos das falas dos participantes do terceiro dia. Para as falas completas, acesse o YouTube do Instituto Natura.
Flávio Dino (MA)
Governador do Maranhão
Tabata Amaral
Deputada Federal
Vitor Arruda
Estudante Egresso do Ensino Médio Integral de Pernambuco
Jôsi Santos
Professora de Projeto de Vida
Ricardo Paes de Barros
Professor Titular da Cátedra Instituto Ayrton Senna no Insper
Ainda no terceiro dia, o pesquisador, professor do Insper e coordenador da Cátedra Instituto Ayrton Senna, Ricardo Paes de Barros, apresentou os resultados do estudo inédito sobre o Ensino Médio Integral em Tempo Integral (EMITI) em Santa Catarina.
“O Ensino Médio é o período mais desafiador da Educação, tanto para retenção como para o aprendizado dos estudantes. Por isso, discutir e dar luz às evidências de um modelo que tem potencial para diminuir as desigualdades sociais e que tem conseguido dar respostas aos principais desafios dessa etapa de ensino é fundamental.”
David Saad, diretor-presidente do Instituto Natura.

Realização

Instituto Natura
Instituto Natura é uma entidade social da Natura, criado em 2010 com o propósito de ampliar os investimentos em educação, realizados pela empresa desde 1995. A instituição apoia políticas públicas relacionadas à alfabetização e ao Ensino Médio, realizando iniciativas voltadas para a articulação do terceiro setor educacional e para o desenvolvimento das Consultoras de Beleza Natura. O investimento acontece por meio da venda dos produtos da linha Natura Crer Para Ver, comercializada pelas Consultoras de Beleza Natura, sem lucro. Atualmente, o Instituto Natura atua em 22 estados, com iniciativas que envolvem mais de um 1,2 milhão de crianças e jovens por ano.
Consed
Conselho Nacional de Secretários de Educação é uma organização que reúne as Secretarias de Educação dos Estados e do Distrito Federal. Sua finalidade é permitir a participação dos estados nos processos de decisão e implementação das políticas nacionais, além de promover a integração das redes estaduais de ensino e o regime de colaboração com as outras unidades federativas para o desenvolvimento da escola pública.

Apoio

Instituto Sonho Grande
Instituto Sonho Grande é uma organização sem fins lucrativos que trabalha em colaboração com estados e terceiro setor para a melhoria da qualidade do ensino das redes públicas. Desde 2015, apoia a expansão do Ensino Médio em Tempo Integral e avalia os resultados do modelo. Atualmente, o Sonho Grande é parceiro de 19 estados e contribui com 2,8 mil escolas e 544 mil estudantes.
ICE
Instituto de Corresponsabilidade pela Educação – ICE é uma entidade privada sem fins econômicos fundada no Recife em 2003, que visa primordialmente a melhoria da qualidade da educação pública no Brasil, no Ensino Fundamental e no Ensino Médio, produzindo soluções educacionais inovadoras em conteúdo, método e gestão. O seu programa de Educação Integral para o Ensino Médio – Escola da Escolha – está presente em 19 Estados.