Crianças negras são maioria no ensino básico público brasileiro e estão mais expostas a situações de violência e racismo. Desde os anos iniciais de ensino é fundamental trabalhar práticas pedagógicas antirracistas. Conversamos sobre o assunto com a mestra em educação e professora Sheila Azevedo.
Que a alfabetização é uma etapa primordial na educação, já sabemos. Aprender a ler e escrever na idade certa é o primeiro passo para ter sucesso na aprendizagem ao longo de toda a vida. Por isso, segundo a Base Nacional Comum Curricular, a alfabetização deve ser o foco principal das ações pedagógicas no 1º e 2º ano do Ensino Fundamental I. Mas você já refletiu sobre os primeiros livros e histórias que as crianças têm contato? Essas primeiras narrativas exercem um papel essencial na construção cidadã das crianças, por isso, sua seleção deve levar em consideração questões importantes, como as relações étnico-raciais.
Segundo o Data Favela, 85% da população brasileira percebe algum nível de racismo presente nas escolas. Além disso, os alunos negros são a maioria no ensino básico público (fonte: Instituto Locomotiva a partir da PNAD), e eles estão mais expostos à violência, do que os alunos brancos: 37% dos alunos negros já sofreram pessoalmente algum tipo de violência em suas escolas e 58% dos professores negros já sofreram pessoalmente algum tipo de violência em suas escolas (fonte: Instituto Locomotiva).
Esses dados mostram a importância de se combater o racismo dentro das escolas. Com esse objetivo, em 2003, foi promulgada a Lei nº. 10.639/03 que torna obrigatório o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira em todas as escolas do país.
Para entender mais sobre a relação e a importância da etapa de alfabetização com a Educação para as Relações Étnico-Raciais (ERER), conversamos com a Sheila Azevedo, Mestra em Educação pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul e Professora da Educação Básica do município de Campo Grande em Mato Grosso do Sul.

“É muito importante, desde muito cedo, você construir essa identidade positiva com as crianças negras, para que elas descubram a beleza delas e se reconheçam como crianças negras. Reconheçam que existem pessoas negras bem-sucedidas, pessoas negras que estudam, pessoas negras que são cientistas, modelos, apresentadoras de TV, advogadas, médicos. Que eles têm possibilidade de serem o que quiserem.”, disse Sheila.
Com os seus alunos do 2º ano do Ensino Fundamental I, ela trabalha com livros que abordam a cultura e a história afro-brasileira e africana. Atualmente, está desenvolvendo um projeto com o livro “Cada um Com Seu Jeito, Cada Jeito é de Um!” da autora Lucimar Rosa Dias, o livro permite que ela aborde temas importantes como o respeito às diferenças, além de áreas do conhecimento como História, Geografia e Língua Portuguesa. O objetivo é “ensinar a criança negra e a criança não-negra o respeito às diferenças, o respeito à igualdade de direitos e, também, trazer uma educação antirracista.”
Assista aqui a Oficina de História do livro “Cada um com seu jeito, cada jeito é de um”:
A mestra e professora contou que busca sempre trazer a temática de forma leve, divertida e lúdica, com brinquedos, brincadeiras, histórias infantis e cantigas. Em sua sala de aula, tem uma caixa de bonecas e bonecos negros para que as crianças possam brincar e sentirem-se representadas. Inspire-se com a Oficina de Brinquedos e Brincadeiras que fez parte da conclusão do mestrado da professora Sheila:
A formação de docentes com foco na Educação para as Relações Étnico-Raciais (ERER) é fundamental para que todos os professores se sintam preparados para abordar o tema e compreendam a sua importância, assim, garantindo efetivamente a Lei do Ensino de História e Cultura Afro-brasileira em todas as escolas.
Para os professores que querem iniciar as práticas pedagógicas antirracistas, Sheila deixou algumas dicas:
1 – Sensibilizar-se pelo tema.
2 – Ser curioso, ler e pesquisar muito.
3 – Ouvir e ver toda a diversidade que está na sua frente.
4 – Despir-se de preconceitos.
5 – Vestir-se de novos conhecimentos que respeitam às diferenças.
Os livros também são grandes aliados nesses processos. Tanto no processo de abordar a afro-cultura em sala de aula, quanto nos processos de alfabetização. Por isso, aqui vão algumas dicas:

Meu crespo é de rainha
Autora: Bell Hooks
Editora: Boitatá

Cada um Com Seu Jeito, Cada Jeito é de Um!
Autora: Lucimar Rosa Dias
Editora: Alvorada

O Pequeno Príncipe Preto
Autor: Rodrigo França
Editora: Nova Fronteira

Amoras
Autor: Emicida
Editora: Companhia das Letrinhas

O Reino Perdido de Odara
Autor: Danielle Ferreira
Editora: Luva Editora
Essas são apenas algumas dicas, mas a boa notícia é que existem muitos outros títulos e autores incríveis para serem explorados em sala de aula!